Para muita
gente, trabalhar numa agência de comunicação significa ter uma jornada de 18
horas, ausência de vida pessoal, viver num ambiente caótico. Muitos gestores de
conta decidem migrar para cliente para fugir disso. Por outro lado, o ambiente
menos formal das agências é justamente o que atrai alguns profissionais de
marketing de empresas. Enfim, tudo é uma questão de perspectiva. O que parece terrível para uns, pode representar o paraíso
para outros.
A má notícia é que as agências são mais receptivas em acolher um
profissional da área de marketing de empresas do que o contrário. Por quê?
Porque as agências veem valor na bagagem de quem trabalhou como
cliente. Já os clientes talvez não se dêem conta da contribuição que o profissional de
agência pode agregar ao seu negócio.
Eu gostaria muito de contribuir para mudar essa realidade. Tendo já
experimentado trabalhar “do outro lado do balcão”, notei algumas barreiras
que dificultam a nossa entrada no mundo dos anunciantes. Por isso, aí vem a boa notícia: é possível desconstruir essas barreiras, se você se preparar bem. Vamos lá?
Passo 1. Mostre Que Tem Experiência na Área
Antes de se
candidatar a alguma vaga, procure escolher as empresas em que quer atuar. Selecionar
empresas de segmentos que tenham a ver com os de clientes que você já atendeu
ou atende aumentam suas chances. Por exemplo, se já atendeu clientes da área farmacêutica, selecione empresas
desta área para se candidatar. Você pode até ampliar seu foco um pouco mais,
buscando empresas afins, como por exemplo, editoras que publicam material
específico para a área médico-hospitalar. E por aí vai. Pronto, já é meio caminho
andado. Você tem a seu favor o fato de que, como profissional de agência, seu
foco era pensar o tempo todo em soluções para atingir o cliente deste cliente
(o target do cliente, o consumidor final). Portanto, você conhece profundamente
esse target. Provavelmente, contratou empresas de pesquisa, assistiu a focus
groups, surveys, foi ao PDV, conversou com consumidores, fez muito desk
research. Música para os ouvidos do seu futuro empregador, não acha?
Passo 2. Prepare-se Para Derrubar Ideias Preconcebidas
Uma
delas é a crença de que profissionais de agência não oferecem
recomendações com rigor analítico. Como é que é? Ora, ora... Como Gestor de
Contas, você certamente terá repertório suficiente a respeito de como liderou projetos
de pesquisa e participou das análises dos resultados. Melhor ainda ficará seu
discurso se você puder contar que teve alguma ideia de caminho que levou a uma
análise mais adequada de um determinado dado/fato. Você vai impressionar
positivamente se mostrar sua habilidade em identificar o remédio que levou à
solução final. Outra dica é falar sobre
projetos que envolvam o digital. Por exemplo, é raro um planejamento de mídia
que não englobe programática, métricas etc., não é? Ah, OK, você não é mídia. Sim, mas um Gestor de Contas discute o tempo todo com a mídia a respeito dos
jobs, antes durante e depois de apresentar os planos ao cliente. Você estava
lá, não necessariamente fazendo o plano, mas ajudando a pensar e a chegar às
conclusões. Gerenciando esse projeto/processo. Explique como administrou esse planejamento junto ao gestor de mídia, afinal, antes de tudo começar, foi você o responsável pela apuração do briefing que ajudou a costurar todo o
pensamento estratégico, pensamento este que foi fundamental para o plano final!
E se você contribuiu com algum insight no meio do caminho, se percebeu que
deveria mudar algum rumo para atingir melhores resultados, enfatize isso. É
conhecimento que vale ouro para quem precisa ter alguém no departamento de
marketing que entenda como esse processo se dá.
Outra
coisa muito comum que passa pela cabeça do entrevistador ao se deparar com um profissional
de agência é aquela velha história de que publicitários não são fieis a nenhuma
empresa, mudam muito de emprego. Se você realmente pulou muito de galho em
galho, é melhor pensar bem direitinho no que vai dizer. Existem motivos concretos e justificáveis pelos quais mudamos de agência,
mas esses motivos têm de fazer sentido para o profissional da empresa que vai
te entrevistar. O motivo deve ser real, entretanto não exatamente tudo
o que te levou a tomar certas decisões interessará ao entrevistador, ou fará sentido. Atenção: não estou dizendo para você
inventar algo, e sim que dentre esses motivos você deverá eleger o que pode
soar confiável e justificável, não corroborando com a ideia de que você é volúvel,
que não aguenta ficar muito num lugar, que é um eterno insatisfeito, que gosta
de fazer leilão. Quer um exemplo? Você pode ter mudado de agência porque o
cliente mudou de agência. Seu trabalho era tão reconhecido que você foi
convidado a continuar nele, só que em outro lugar. Nesse caso, você mudou
fisicamente de lugar, mas deu continuidade ao seu trabalho com aquele anunciante. Mais uma vez, é o caso de colocar as coisas em perspectiva. Outro exemplo: você é tão
especializado em trabalhar para clientes cujo target é o infantil, que trabalhou
em diversas agências, com clientes diferentes, mas com o mesmo
target. Nesse caso, a “fidelidade” ao target é o que deve ser enfatizado.
Passo 3. Seja
Positivo, Foque no Presente (e no Futuro)
A pior coisa
é chorar miséria, se lamuriar, reclamar da sorte. Nunca fale mal de seu chefe, ou
de seu ex-patrão, de sua agência atual ou das anteriores. O importante é o que
essa nova oportunidade poderá acrescentar à sua carreira. E é isso o que
interessa a quem vai te contratar. Justifique seu desejo de trabalhar nesse
novo emprego com algo que tenha a ver com o presente e com o futuro que você deseja ter,
nunca como consequência do que aconteceu de ruim anteriormente. Quer um
exemplo? Você percebeu que sua expertise nesse ou naquele ponto poderia ser
melhor utilizada nesse lado do balcão, explique por quê. Melhor ainda se você puder contar como
chegou à conclusão de que queria estar desse lado do negócio, como teve essa “epifania”. Se tiver uma boa história, conte. Por exemplo, se estava coordenando um job e pensou: puxa, se eu fosse o cliente, poderia ter feito isso ou aquilo etc. Mostre que conhece o mercado onde seu cliente atua, que estudou esse mercado, que poderá sugerir caminhos. Mas, mais uma vez, seja autêntico. Boas histórias, principalmente histórias verdadeiras, sempre tocam o coração de quem nos ouve.
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A ideia para esse post nasceu de uma sugestão da leitora Aline Agra. Obrigada, Aline, pela contribuição. Se você também quiser sugerir um tema, escreva aqui nos comentários.