28 de novembro de 2015

Funções em Atendimento – Responsabilidades e Salários

"Adoro as dicas e como você explica de forma fácil e descomplicada o que é a 'vida de um atendimento'. Gostaria muito que você me ajudasse a entender o que está acontecendo com nossa profissão e com a nomenclatura da nossa área. Tenho percebido que gestor de contas e supervisor se tornou o mesmo cargo e, o que é pior, estão vistos pelos recrutadores como apenas prospecção. O atendimento off line, pelas minhas buscas de emprego, acabou! Hoje o mundo é online."
Vanessa Pedroza, Rio de Janeiro


Querida Vanessa, não há como te responder sem escrever um looongo post para poder contextualizar tudo isso. Vamos lá, então. 

Atendimento Publicitário não é uma coisa só. Assim como em outras atividades, existe uma hierarquia que reflete a experiência e o nível de responsabilidade do profissional. E, obviamente, isso impacta diretamente no salário dele/dela. Até aí pode parecer óbvio, não fossem alguns fatores que complicam esse raciocínio. Você percebe isso claramente quando precisa preparar um currículo para buscar uma colocação, ou para simplesmente saber o que se espera de você quando já foi contratado. Ou, ainda, se você é o empregador e precisa descrever no anúncio da vaga que está oferecendo. 

A busca por informações

Você encontra informações sobre as funções em atendimento em alguns livros, desses que são recomendados nas faculdades. São versões não-oficiais, digamos assim,  fruto das experiências dos autores no mercado de trabalho (dê uma olhada aqui). 

Tentei buscar a informação nos sites do Sindicato dos Publicitários de vários estados, mas depois de meia hora sem achar nada, desisti.

Já nos sites do Sindicato das Agências de Propaganda, o Sinapro, acha-se alguma coisa aqui e ali. Mas basta comparar com o que é descrito nos sites de diferentes regiões para ver diferenças. Olha só esses dois exemplos:

O Sinapro do Rio de Janeiro mostra cinco níveis hierárquicos e seus respectivos descritivos:


Já o Sinapro de Goiás, apresenta seis níveis e esses descritivos:


http://www.sinaprogo.com.br/cargos_e_funcoes.html

Vale a pena padronizar?

Você pode achar que padronização não é relevante, pois cada agência deve definir o tipo de profissional de Atendimento que precisa e quais serão suas responsabilidades de acordo com a sua necessidade. Pode achar que a padronização não ajuda porque na composição do salário entram em jogo fatores como tamanho da empresa, faturamento das contas atendidas e as características do mercado em que a agência atua. 


Invenção do Atendimídia, anúncio publicado em 2003
Discordo. Cargo e salário fazem parte de uma equação que deve ser corretamente calculada. Para que isso ocorra, tem-se que partir de alguma base fidedigna que possa ser aplicada ao mercado publicitário como um todo. Em vez disso, o que se percebe são adequações que nem sempre fazem sentido, distorções, na verdade, que não ajudam nem a empregadores, nem a empregados, e nem mesmo aos freelancers. Já vi executivos de conta exercendo funções de supervisores (o salário, claro, é de executivo). Já vi diretores de atendimento que não exercem efetivamente uma atividade com responsabilidade compatível a uma diretoria desse quilate, nem a eles são dados poder de decisão e comando de equipe. E aí esse pode ser um caso de função e salário superdimensionado. E já vi coisas mais esquisitas, como a vaga anunciada para Atendimídia, da Bates, que gerou indignação e chacota na época.


Divulgação dos salários "deu ruim" 

Não se sabe ao certo quanto ganha um Atendimento, nas diferentes funções. De novo, se você buscar a informação nos sites das entidades que representam a categoria (sindicatos, associações) para ter uma base nacional ou regional, não vai encontrar. Também não encontra em outras fontes confiáveis. 

Talvez fazendo uma consulta pessoalmente no Sindicato você obtenha essa informação, confesso que não tentei. A verdade é que o Sindicato dos Publicitários sabe quanto ganham os profissionais de propaganda. Afinal, para pagar a contribuição sindical anual, as agências têm que enviar ao sindicato os cargos e salários de seus funcionários para que o cálculo seja conferido. Porém, essa informação é considerada sigilosa e por isso não era divulgada. 


Não era até 2012, quando o Sindicato dos Publicitários de São Paulo tomou a iniciativa de revelar ao mercado o que chamaram de “diferenças abissais” entre os salários para o mesmo cargo em diversas agências. 




Na ocasião, o Sindicato revelou ao mercado a média dos salários dos profissionais de propaganda, inclusive do Atendimento, mencionando o nome das agências que pagavam melhor e pior. (matéria completa aqui)






A divulgação causou um tremendo mal-estar para as agências. O Sinapro até divulgou comunicado de desagravo, alegando que daquela forma houve distorções e divulgação não-autorizada de informações sigilosas. (leia a matéria completa sobre o assunto aqui)
A partir de então, morreu o assunto.




O que temos pra hoje

Para não dizer que não temos nada, vale apontar que o Sinapro SP realiza uma pesquisa de salários há dois anos. A última, inclusive, foi divulgada recentemente, no dia 24/11/2015 (link). Entretanto, os resultados apresentam apenas a média de salários em geral, em São Paulo (capital e interior), sem separar por cargos/funções. Se você não é de São Paulo e quer saber qual o salário na sua região, aí não rola mesmo. E, vamos combinar, São Paulo é o maior mercado do Brasil e não tem como servir de parâmetro para outras praças. Como não tenho conhecimento de pesquisas semelhantes realizadas por entidades de classe em outros estados, continuo com a minha tese de que a questão dos cargos, das funções atribuídas a cada um e, consequentemente, dos salários correspondentes continua confusa.

Para obter alguma informação temos que dar nosso jeitinho, o que nunca é o ideal, mas é o que nos resta por hora. Se você é empregador, pode trocar ideia com outros gestores de agência, mas com as distorções já explicadas, pode estar repetindo uma interpretação que já vinha distorcida lá atrás. Se você é profissional de Atendimento, conversar com pessoas do mercado ajuda, mas há o constrangimento de tocar no assunto com seus pares. É uma questão cultural: nós brasileiros não gostamos de compartilhar informações sobre quanto ganhamos.

Apesar de tudo, fiz uma pesquisa informal a respeito do mercado do Rio de Janeiro, há um ano mais ou menos, para poder dar uma ideia aos meus alunos do curso de comunicação da ESPM. O que apurei:


Informações que ajudariam a empregados e empregadores. Uma proposta

Gostaria de mostrar um exemplo que considero muito interessante. Trata-se de uma pesquisa realizada anualmente pela empresa de recrutamento e seleção The Creative Group, com escritórios no Canadá e EUA. Eles divulgam o Guia de Salários do Mercado de Comunicação e Marketing, que engloba todos os cargos dos profissionais de agência (de criativos a atendimentos), bem como posições de marketing e relações públicas. 

A pesquisa é minuciosamente elaborada considerando-se:
- dados coletados por eles ao recrutar profissionais 
- pesquisas realizadas com executivos de marketing e propaganda nacionalmente
- análises de tendências em termos de contratações realizadas 

A partir daí é calculada a média salarial nacional de cada cargo/função. Para saber quanto o profissional ganha nas principais cidades dos EUA e Canadá, eles informam um quociente que você pode aplicar, por local, o que torna muito fácil saber a média salarial em cidades tão diferentes como Toronto, Nova York ou Los Angeles, por exemplo. O relatório da pesquisa aponta tendências, dá muita informação relevante. O guia 2016 acabou de sair. Vale a pena ler (link) e, quem sabe, tentar aplicar algo semelhante por aqui.

Como sei que você deve estar curioso, separei aqui o que eles informam como a média salarial dos profissionais de Atendimento (em dólares canadenses). Os números abaixo representam a média doe EUA e Canadá do salário anual, (considerando 12 salários):


Fica a dica

Resumindo, além da falta de padronização na nomenclatura de cargos e funções, falta também alinhamento das responsabilidades correspondentes a cada uma delas. À propósito, é bom ressaltar que o melhor dos mundos seria também estabelecer um piso salarial para cada função, o que protegeria os profissionais e ajudaria os empregadores a recrutar melhor. Isso sem contar com a questão da atualização. Já é tempo de rever job descriptions. A realidade mudou a partir do digital, algumas habilidades e competências não fazem mais sentido, e outras surgiram. 

É bom deixar claro que estou falando apenas sobre o Atendimento porque este blog tem como foco tudo o que interessa a quem exerce essa função, mas essa questão abrange todos os cargos das agências, sendo assim do interesse de todos os profissionais de propaganda.

Penso que uma reformulação de nomenclaturas e uma coleta de dados mais ampla seria de grande valia para empregados e empregadores do mercado brasileiro. Quem sabe o Sindicato dos Publicitários e a Fenapro pudessem liderar esse projeto num futuro próximo? 

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