29 de janeiro de 2014

Você Pergunta e a Gente Responde: Portfólio Web, Vídeo ou Impresso?


Sou executivo de contas e queria renovar o meu currículo com algo mais moderno para conseguir uma vaga de atendimento em agência maior. Li algumas postagens em que você fala sobre Portfólio de Atendimento para quem é estudante. No meu caso, o melhor é "impresso" / "vídeo" / "web-portfólio"? Nunca vi um portfólio web para um profissional de atendimento. Vi alguns profissionais que investem na produção de um vídeo sobre si mesmos como marketing pessoal. Vi alguns currículos com design diferente, mas nada "psicodélico" para atendimento. Qual é a sua opinião sobre isso? Você recomendaria?

Rodrigo Stipp - Santos, SP

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Rodrigo,
Entendo sua preocupação quanto à diferenciação. Afinal, por que uma agência escolheria você dentre outros pretendentes? Na verdade, essa é a pergunta de um milhão de dólares e não é fácil respondê-la. Muitas coisas estão em jogo na hora de uma contratação, e nem todas você poderá controlar. Mas você tem que fazer a sua parte para tornar a informação a seu respeito relevante e chamar atenção para si.

Vamos começar do começo. O importante é dar segurança ao contratante. Portanto, torne as coisas concretas. E como se faz isso? Em primeiro lugar, preocupando-se com o conteúdo (depois, a gente pensa na forma). Separe essas informações antes de montar seu CV, pois elas são relevantes na carreira de um Atendimento:

1. Quais contas você já atendeu e atende?
2. Qual a verba que você administra em cada uma dessas contas?
3. Que tipo de cliente você atende (varejo, serviço, produto, nacional, internacional)?
4. Que resultados obteve com as campanhas das quais participou?
5. Tem algum exemplo de uma ação sua que tenha feito a diferença na condução de um projeto?
6. A quem você se reporta? Quantas pessoas você comanda? (isso ajuda ao empregador a ter a ideia precisa de seu grau hierárquico na organização)
7. Quem pode atestar seu talento e competência? Dê referências. O empregador irá atrás dessa informação de qualquer jeito, então, facilite a vida dele e a sua, justamente para que ele fale com quem você tem certeza que dará boas referências a seu respeito.

Agora, falemos da forma. Vamos por partes, analisando algumas que você citou:

Webfolio

É interessante que você menciona nunca ter visto um webfolio de Atendimento. Como não? Você já percebeu que eu tenho um webfolio? Ele é o meu blog, a minha página no Facebook e no Linkedin, a minha conta no Twitter. Escrevendo sobre Atendimento nas redes sociais eu me apresento e me exponho, dou minha opinião sobre assuntos da área, colaboro com estudantes e profissionais, e mantenho contato com o mercado. O que você tem feito nas redes sociais? Isso é outro ponto muito importante. O empregador vai te procurar no Facebook, não tenha dúvida. Então, atenção ao que posta sobre si mesmo e sobre a sua opinião a respeito de qualquer assunto. Sem que se dê conta, isso já faz parte do seu portfólio. Saiba usá-lo a seu favor.


Infográfico não é só gráfico. Às vezes tem texto à beça.

Infográfico

Uma nova moda num mercado cheio de modismos como o nosso. Por mais bacana que seja, o que realmente uma peça gráfica vai informar sobre você, já que não está em busca de uma vaga como designer ou diretor de arte? Cuidado para não criar uma peça “psicodélica”, como você mesmo diz. Aliás, quem quer um Atendimento psicodélico? Por mais moderninhas que as agências sejam, acredite: elas querem Atendimento organizado, responsável e que solucione problemas. E nem sempre um infográfico é fácil de entender ou rápido de ler. Considerando que você enviará esse material por email, pense no que pode ser mais fácil e simples de entender por esse meio. Até o contratante abrir o anexo e conseguir ler/ver tudo... Sinceramente, um texto bem escrito me impressiona mais. Sucinto, claro e que vá direto ao ponto (e não é assim que deve ser um bom Atendimento?). 


Vídeo

Mais ou menos a mesma coisa que falei sobre o Infográfico. O meio é a mensagem. Se você se comunica superbem oralmente, se a sua imagem e o que tem a dizer forem impactantes o suficiente para pensar em fazer um vídeo, OK. Do contrário, fazer um vídeo como se fosse um ppt, com música de efeito ao fundo e alguma bossa vai dizer o que sobre você que realmente seja relevante para o posto que você está pleiteando? Todo cuidado é pouco.   

 
Taí um exemplo. Além de tudo, há erros gramaticais em inglês e o cara informa que sabe inglês. Precisa dizer mais?


O Mais Importante: nada substitui o olho-no-olho

Não envie seu currículo e ligue depois para saber se poderá se encaixar numa possível vaga. Faça o contrário: ligue para os diretores de atendimento das agências, apresente-se e diga que gostaria de agendar um horário para conversar e se apresentar, obtendo alguns conselhos e dicas sobre a função de Atendimento numa grande agência. Tenho certeza de que muitos de meus colegas de profissão não te negarão um papo. Conseguindo um encontro presencial, vá com tudo. Seja sincero, transmita segurança. Ouça muito. Olhe só quanto networking você estará fazendo. Essas pessoas vão te conhecer pessoalmente (e você a elas). Quem sabe, vão simpatizar contigo, gostar do seu jeito, da sua postura profissional e quando pintar uma chance eles irão mais facilmente se lembrar de você. Leve consigo seu CV impresso e peça, inclusive, para que o profissional o analise e te dê dicas de como melhorá-lo, se for o caso. Depois do encontro, envie um email de agradecimento e anexe o CV com as alterações sugeridas. Que tal?

No site Monster.com há inúmeros modelos de CV e cartas de apresentação e cartas pós-entrevista. Dê uma olhadinha nesse CV aqui de Atendimento, por exemplo.

Um abraço e muito sucesso na carreira que escolheu.

17 de janeiro de 2014

Executivos de Conta da Geração Z: Senso de Imediatismo

por Admir Borges* 

Outro dia me perguntaram sobre o que acho a respeito do futuro do trabalho de atendimento publicitário e, mais especificamente, essa atividade desempenhada por profissionais da Geração Z. Confesso que essa questão foi motivo para uma reflexão insólita. Evidentemente, não cheguei a um texto conclusivo, mas consegui dar o passo inicial para pensar e escrever mais a respeito. Em primeiro momento, penso que o mercado publicitário, em processo de efervescência plena, precisa começar a se preparar para receber a nova geração que irá comandá-lo nos próximos anos. A chamada Geração Z, nascida a partir de meados dos anos de 1990, é ainda uma incógnita para os gestores que sequer conseguiram entender a geração imediatamente anterior: os Y’s. 

Os contornos do cenário atual são preocupantes no que tange às incongruências entre uma oferta escassa de jovens vocacionados para o atendimento e consultoria e os desafios dos diretores das agências na contratação e manutenção de bons profissionais. Desafio que ganha ainda outras dimensões quando deparamos com o perfil dos novos publicitários, como a tarefa de saber a forma de liderar essa geração e conduzi-la corretamente em suas expectativas e anseios profissionais. Porém, eles já apresentam alguns diferenciais: intimidade tecnológica, autoconfiança, agilidade, objetividade, criticidade, questionamento, ambição, preocupação com qualidade de vida, capacidade para multitarefa e aprendizagem intuitiva. O senso de imediatismo é uma das características mais marcantes nessa Geração Z. Eles não pensam em permanecer em uma determinada empresa por muito tempo e querem resultados instantâneos em suas carreiras. 

É possível supor que os Z’s empreenderão um novo ritmo no mercado, pois, diferentemente das gerações anteriores, eles buscam referências completamente inovadoras e aspirações que condizem com uma nova dinâmica empresarial, em que o processo hierárquico cede lugar à horizontalização das relações, ao empreendedorismo, ao ambiente colaborativo, ao engajamento e a ausência de controles rígidos. Uma contribuição forte dos Z’s para o trabalho publicitário será a intensificação do processo colaborativo, o compartilhamento aberto e a solução de problemas a partir do senso comum, valorizando as ideias resultantes do coletivo como determinante essencial para as respostas inovadoras. O horário de trabalho fixo tenderá a desaparecer, substituído por um foco na obtenção de  resultados, independentemente de como o tempo é gerido. 

No entanto, mesmo antes da realidade do trabalho dentro de uma agência, muitos desses futuros profissionais se deparam com os desafios da sala de aula, onde as metodologias tradicionais não estimulam o aprendizado e a preparação para o início de carreira. É preocupante esse hiato entre a expectativa e a realidade da formação. Certamente, e com propriedade, os Z’s vão remover barreiras, e os limites serão debelados. 

Algumas agências já estão mais bem preparadas para oferecer um contexto adequado, em que se dá responsabilidade junto a projetos e desafios, liberdade de criação, horários flexíveis, redução de fronteiras entre trabalho e entretenimento, gestão participativa e colaborativa, engajamento e motivação. Para maior realismo, eles, os Z’s, serão os protagonistas nessa construção. Assim, com seu senso de imediatismo, serão capazes de encontrar maneiras de explorar o momento, ao invés de adiar o futuro, como as gerações anteriores costumavam fazer. Esta é uma geração que vai remodelar a forma de como as agências trabalham. 

(*) Admir Borges é autor do livro “Executivo de Contas Publicitárias: de contato a consultor de comunicação

8 de janeiro de 2014

Aposentando a Batuta


Há uma analogia recorrente que compara o papel do Atendimento com o do maestro. Concordo que essa analogia até consegue obter uma aproximação maior com o nosso papel, mas após tantos anos de profissão e mesmo atuando em posição mais estratégica, nunca me senti plenamente confortável com ela. Quantas vezes me perguntei se era mesmo o nosso papel similar ao de um regente? Perdi a conta. Por isso, refleti, refleti, refleti. E resolvi propor um reposicionamento do Atendimento na orquestra.

Começando do princípio: imaginemos a “orquestra” como metáfora da organização, a agência como um todo, ou da empresa prestadora de serviços de comunicação como um todo. O maestro seria quem, então nessa organização? Bom, maestro, pelo que sabemos, estabelece o que deve ser feito e como deve ser feito. A sinfonia carrega a interpretação que o maestro fez daquela partitura. E cabe aos músicos seguir essas diretrizes de forma irrefutável. Em resumo, ao maestro cabe estabelecer as diretrizes e aos músicos, seguir a sua (dele) interpretação da sinfonia. Aí eu pergunto: teria a maioria dos atendimentos realmente o poder de determinar como uma empresa deve  “tocar uma sinfonia”? Não, a menos que ele/ela seja CEO, presidente, dono/a.

Entendo que a função das definições e analogias visam a dar certo empoderamento ao atendimento para gerar estímulo e motivação para os profissionais. Porém, o efeito tende a ser contrário quando há um superdimensionamento desse “poder”. Ao se exigir caber num determinado papel e ser cobrado a caber nele, o Atendimento se vê muitas vezes angustiado porque algo sempre parece deslocado, difícil ou impossível de ser alcançado.

Talvez por isso meu incômodo com essa definição. O papel do Atendimento traria ali implícito um quê de arrogância e superioridade, o que contraditoriamente descaracteriza a essência do nosso trabalho – a colaboração, a parceria, a atuação pelo bem maior.

Então eu sugiro uma nova analogia, reposicionando o Atendimento na “orquestra”. Não como maestro, mas como um dos músicos. Sem supremacia dentre as outras disciplinas, mas, sem dúvida, fundamental no todo. Nessa nova analogia, não precisamos nem fazer parte de uma orquestra (= grande agência). Podemos atuar até em uma banda de garagem ou num quarteto de jazz.

E quem seria esse músico? Proponho o percussionista. Ele não fica no backstage, fica estrategicamente atrás, de onde pode ter a visão do todo. Ouve a todos com muita atenção para proporcionar um certo nível de estrutura à conversação. Uma série de coisas depende do seu julgamento na hora exata em que estarão acontecendo. Exerce influência no volume, isto é, o quão mais “alto” ou mais “baixo” as coisas devem acontecer.

Ser percussionista tem muito a ver com ter uma apurada percepção do todo, que por sua vez tem a ver com manter-se focado enquanto os outros músicos tocam mais alto ou mais baixo. O que tem a ver com um senso de responsabilidade sobre a performance geral para imprimir o ritmo. E com estar acompanhando não no sentido de ir atrás, mas de manter o desenho do som.

O atendimento-percussionista entende que o ritmo muda de acordo com a música que se toca. E sabe que até no improviso há que se manter uma linha que costura tudo e imprime, mais uma vez, o tempo musical.

Numa época em que falamos em sustentabilidade, até mesmo nas relações, convém descer do pódio e olhar os outros como nossos pares. Sentindo-se parte do todo teremos a medida certa do pertencimento e não do poder exercido.

Por último, eu diria que não há nada errado ou certo em interpretar a mesma música de forma diferente. Entretanto, quando a gente se depara com um bom percussionista, a gente sente que a música está estruturada.

Em 2014, troquemos a batuta pelas baquetas!