23 de março de 2011

O Poder do Elogio ou O Lado Psicólogo do Atendimento


Contribuição do redator João Pitanga* (foto), da Prósper Comunicação: um artigo bem humorado sobre o lado carente dos criativos e o papel do Atendimento que, muitas vezes, precisa usar de muuuuita psicologia com essa turma. Ai, jesuscristinho...

CRIAÇÃO TARJA PRETA

Tá achando que só artista tem crise existencial? Criativo também tem esse direito, esse trabalho também é arte, até que o cliente meta a mão, no melhor estilo Ditadura. O palco do criador é a mesa de Criação, onde quanto menos censura, melhor. É formado por um público crítico, capaz de fazer você ganhar a noite, ou perdê-la, dependendo do que foi apresentado no show. Receber um prêmio em Cannes é o ápice de uma ideia, a recompensa de muitos ensaios e noites mal-dormidas, talvez comparado à sensação de sair aplaudido em Woodstock. Ô loco, deve ser inesquecível.

É bom deixar claro que, além de artistas, uma agência de verdade tem grandes Psicólogos. Os criativos são os pacientes, insanos, perturbados, infectados pela Síndrome do Elogio, na expectativa de voltar melhor de suas consultas, que são campanhas, peças e orçamentos aprovados. Os Psicólogos são Atendimentos, Planejamentos, Gerentes, Diretores de Criação, aquele pessoal que comanda o divã e a medicação diária, composta por pílulas com efeitos colaterais variados: as palavras certas, na hora certa. É importante controlar a dose de acordo com o diagnóstico de cada um e agir rápido nos momentos de crise. Remedinho neles.

Se você integra essa rede de Psicologia Pró-Criativa, carregue a bula para aonde for. Vá além do tapinha nas costas, use a ciência do empurrão, do incentivo, do “vamos em frente”. Um criativo desmotivado e frustrado pode se tornar num filho da puta sem ideias. Use o Elogio conforme manda o diagnóstico abaixo.

Massaperidona. Nome comercial: MassaJob pronto, feito na correria, não deu pra sair nada além do normal, cliente tinha pressa. Mesmo assim, o criativo precisa da sua dose de Massaperidona. O MASSA é recomendado para pacientes com raras crises egocêntricas, essa dose baixa de Elogio já está de bom tamanho, ele vai reagir bem.

Maneirozil - Nome comercial: Maneiro
Recomendado para criativos com o mesmo perfil acima, porém, a substância costuma fazer mais efeito. Quando medicado, percebe-se uma melhora imediata de humor e disposição. É sempre bom deixar uma amostra grátis na criação.

Animalisadina - Nome comercial: Animal!
Essa substância deve ser mantida fora do alcance de pacientes com o Ego acima do normal, principalmente daqueles que nem merecem receber tal medicação. Manusear com cuidado. Se utilizada em excesso, corre-se o risco de desencadear um Ataque Extremo de Ego, que faz com que o paciente tenha alucinações, achando ser melhor do que realmente é.

Fodadupaston - Nome comercial: Foda, hein!
Pesquisas e tratamentos recentes comprovam que os pacientes respondem positivamente após ingerirem esse medicamento. Sua dose causa uma melhora visível da autoestima e fortalece a visão de novas ideias. Recomendado somente se a qualidade da criação corresponder a essa carga alta de Elogio.

Matouapauvotril - Nome comercial: Matou a Pau!
Difícil de ser encontrada no mercado atual, essa medicação tem efeito imediato e é motivo de estudo nas melhores faculdades da área. A Matou a Pau é forte, poderosa e deve ser utilizada apenas mediante prêmios nacionais e internacionais.

DucaFetamina - Nome comercial: Ducaralho
Tarja preta. Esse Elogio pode causar dependência e, no caso de abstinência, a crise volta mais pesada e destruidora para toda a agência. Poucos pacientes têm contato com esse tipo de medicação, que proporciona uma sensação estranha de se sentir em outro corpo, a Olivetite. Não recomendada para menores de 10 anos de experiência, podendo, nesse caso, levar à falência múltipla de algumas ideias.

Ou você é Paciente ou exerce a função de Psicólogo. Em ambos os casos, como tem sido a utilização do medicamento? Qual tipo de droga tem recebido? Qual tipo de droga tem prescrevido? Um Elogio sempre cai bem, mas vale lembrar o trecho de um samba: “o remédio que cura pode matar, como água demais mata a planta.”

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(*) João Pitanga é graduado em Publicidade e Propaganda pela UVV (Centro Universitário Vila Velha) e trabalha como redator no Espírito Santo desde 2005. O blog dele é www.ataqueaereo.wordpress.com

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